Sombria e nada realista, a primeira série em live action do serviço de stream da DC Comics, o DC Universe, chega ao público internacional pela Netflix e movimenta o publico geek da internet. A aventura é baseada nas histórias e personagens da equipe dos quadrinhos originalmente criado para reunir os ajudantes dos principais heróis da editora criadora do Batman.
Com o tempo a equipe foi reformulada nos quadrinhos, agora abrigando novos personagens e vilões, um cânone consagrado e duas animações muito populares que ajudaram a tornar a equipe popular entre os não leitores. Bebendo de duas fontes atuais, o sucesso das animações e a onda de produções baseadas em quadrinhos, a DC tem sua estreia no universo dos streams com uma escolha segura e bem produzida.
Nosso primeiro contato com o material da série aconteceu meses antes de sua estreia, uma foto vazada dos bastidores mostrava os personagens principais , alguns deles bem
diferentes das animações e HQs. Isso criou uma revolta por parte de alguns fãs e alguns casos de racismo contra a interprete da personagem Estelar, a maravilhosa Anna Diop. O fato aconteceu por conta da caracterização destoante da personagem, que originalmente possuía a pele laranja por ser uma alienígena, porém é preciso levar em conta que é uma produção dirigida para a TV e casos em que a Estelar estaria andando em público sem ser facilmente notada, como acontece em outros veículos, seriam extremamente difíceis de serem passados com naturalidade.
Toda essa reação negativa desapareceu no primeiro episódio da série, que já podemos considerar uma das melhores da DC. Um piloto apoteótico e cheio de fan services deu o ponta pé necessário para uma estreia aclamada pelos fãs, nele somos introduzidos ao tom sombrio e violento da série, mas também ao surrealismo demoníaco da Ravena e as cenas de ação divertidas da Kory, nossa Estelar.
Quanto a atuação, os intérpretes dos personagens principais entenderam muito bem o que deveriam passar, dando destaque ao Brenton Thwaites que nos entregou um carismático Dick Grayson e um Robin revoltado com o rumo que sua jornada ao lado do morcego de Gotham o levou.
A narrativa é focada em nos apresentar personagens e por isso tem sua história desenvolvida lentamente, uma base muito parecida com a da série ‘American Gods’, adaptação do livro de Neil Gaiman, enquanto o dorso da série é trabalhado temos episódios focados em apresentar o passado dos protagonistas e introduzir outros personagens. Dentre esses novos personagens conhecemos Columba e Rapina que possuem a missão de nos tirar da trama principal e nos afogar em dilemas humanos, que lembra diretamente o universo de ‘Watchman‘ apresentado por Zack Snyder nos cinemas, e cenas de luta corpo a corpo. Por outro lado, também entramos na mansão da Patrulha do Destino, dando um tom colorido e divertido a série, mudando totalmente o ritmo que conhecemos da história dos Titãs, esse episódio não foi nada mais que um backdoor para divulgar a próxima série do stream.
Esses desvios no meio da série podem nos trazer uma sensação refrescante, o que é importante quando se lida com uma sensação de tensão por muito tempo, em contra partida uma vez que eles acabam não acrescentam muita coisa, o que não é exatamente um grande problema e sim uma característica particular da produção.
O que funciona na série
A forma com que as histórias se cruzam nos coloca no universo dos heróis, sem medo, de uma forma fantástica. O papel da Estelar foi escrito para ser badass e isso funciona, temos nossa queridinha e a internet já está muito curiosa para ver mais da Kory. No geral, todos os personagens são muito bem feitos e conceituados, como que a Ravena usa seus poderes, os dilemas que o Dick enfrenta e como eles usam outros personagens como Jason Todd e Donna Troy para uma experiência imersiva do mundo dos quadrinhos.
O que não funciona
Além de ser a primeira temporada, a série também é a primeira produção do stream ‘DC Universe’, por isso alguns episódios são grandes testes de interação e fórmulas narrativas. É compreensível querer saber onde se está pisando neste primeiro momento, mas isso custou alguns episódios abaixo da média. O personagem do Mutano precisou ser um pouco apagado em relação aos outros, é compreensível quando temos muitas histórias que um ou outro personagem fique sem sua luz, agora a série tem um grande desafio de resolver como ele se transformará de maneira prática e como ganhará o público.
Em suma, temos uma série que cumpre seu papel em entreter e entregar algo acima das produções da CW, como ‘Flash’, ‘Arrow’ e ‘Supergirl’, que são focados para um publico jovem e contam com um apertado orçamento de TV aberta. Em Titãs, contamos com efeitos visuais bem estruturados e realizados de forma satisfatória para uma produção televisiva. Na parte do figurino é impossível não comentar sobre o uniforme do Robin e as roupas da Kory que por outro lado contrastam com os outros personagens e chamam atenção de uma forma irônica.
Desenvolvimento da maioria dos personagens, muito fan service e entretenimento garantido, a produção de encher os olhos já um grande sucesso. Alguns erros reconhecíveis puxam a série para baixo, caso ela tivesse menos episódios, evitando seus fillers, seria algo constante e denso. Os grandes desafios da segunda temporada, confirmadíssima, são resolver o final da primeira, fundar a equipe e nos dar mais personagens poderosos, quem viu a cena pós crédito já sabe o que esperar.
Se é possível dar uma nota para a melhor produção televisiva da DC comics não poderia ser nada menos que um merecido 4 de 5 coroas!