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Cabaré Lidô, uma tragicomédia transcendental

A experiência do Cabaré Lidô já começa na rua com as drags atrizes recebendo o público na fila e na calçada, interagindo conosco de várias formas: conversando, fazendo piada e até mesmo seduzindo. Uma amostra bem divertida do que nos espera dentro do teatro.

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A experiência do Cabaré Lidô já começa na rua com as drags atrizes recebendo o público na fila e na calçada, interagindo conosco de várias formas: conversando, fazendo piada e até mesmo seduzindo. Uma amostra bem divertida do que nos espera dentro do teatro.

O ambiente é rústico: um galpão-bar utilizado para uma experiência teatral não convencional. Por ser novidade, para mim, entrei no teatro meio desconfiado, sabe como é, mineiro como sou… Mas aos poucos fui curtindo o ambiente, especialmente a presença das drags, donas da noite.

Enquanto o público entra no recinto, as drags já ocupam o espaço, dando vida ao lugar. Quando então Alegro, dono do cabaré, nos convida para liberarmos nossas fantasias e prazeres em sua casa, nos permitindo ser felizes, especialmente contratando suas putas.

Então a peça começa, com as rainhas performando Cha Cha do Chelo, música que eu amo demais. Então já me senti em casa e me joguei na experiência.

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As drags são as donas da noite e nos encantam com suas performances de tirar o fôlego e tão próximas ao público. Elas dançam, dublam, cantam ao vivo, fazem graça. A ideia é que a gente se sinta num cabaré. Então tem muita gritaria, fofoca, brigas, piadas, sedução… tudo para tornar a atmosfera mais próxima possível do clima de um cabaré.  E quando então tudo parece um sonho as cortinas são levantadas e temos um vislumbre dos bastidores desse cabaré, um puteiro que explora suas putas ao máximo possível, com seu patrão-cafetão, Alegro, que não suja as próprias mãos, mas faz da vida de suas putas um inferno.

Cabaré Lidô é uma tragicomédia em que nós não somos, somente, um expectador distante, mas testemunhas participativas, que mergulham com tudo em sua realidade. Em vários momentos pude conversar com as drags enquanto elas estavam em cena, uma sentou em meu colo e outra me puxou para dançar na pista, com direito a uma rápida espiadinha nos bastidores, recebendo o grito exaltado de um segurança: “Flor, cliente não entra no camarim, volta agora pro salão!” Tudo parte da cena, que me assustou, que me excitou, me fez sentir vivo como há tempos não me sentia.

Flor se apresenta para Alegro num vestido “recatado”, que revida:

Você está indo pra uma festa de comadre? Com essa roupa aí ninguém vai te comer. Não dá não. Vai lá trocar.

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E a obra continua seu desenrolar, com as putas tendo seus momentos de brilhar ao sol, ora dublando, ora cantando ao vivo, ora contando suas trágicas histórias que as levaram a trabalhar nesse puteiro. E é nessas horas que a peça assume seu lado tragédia, com histórias que chegam a revirar nossos estômagos de tão verídicas e próximas da nossa realidade. Várias falas impactantes ainda ecoam em minha cabeça.

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“Aqui eu me sinto como se tivesse uma overdose”.

“Difícil não apontar o dedo para quem tem cu preso para reclamar”.

“Nunca é bom a  primeira vez”.

“Quanta carga negativa para uma profissão que só traz felicidade”.

“Qual o problema de ser filho da puta? Ninguém escolhe a buceta que vai nascer. Filha da puta é o caralho!”.

E uma das falas que mais me atingiu, porque foi aquela que mais me identifiquei: “Eles vão jogar pedra em você só por você ser você. Vão te jogar pedra por você ser travesti, por ser veado”. Tem maior verdade que essa para nossa comunidade LGBT, tão perseguida, mas que ainda assim resiste em existir e contagiar o mundo com sua alegria, carisma e inteligência?

Esses e outros tantos diálogos me fizeram refletir bastante, coisa que ainda estou, pois drag também é, sempre foi e sempre será um ato político.

E entre uma fala e outra, muitas performances maravilhosas, cada lipsync épico que faria RuPaul e Michelle Visage pularem na bancada de jurados.

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Confesso que fui assistir a obra sem ter me aprofundado sobre do que ela se tratava. E fiquei feliz com minha decisão, pois fui livre o máximo possível de ideias pré-concebidas para absorver tudo o que me fosse apresentado. E agora afirmo de peito cheio que foi uma experiência transcendental. Então ao concluir o último ato da peça, fiquei com a sensação de ter vivido uma noite mágica num cabaré, admirando a diversidade de corpos, de tons de pele e de identidades de gênero, pois embora as putas da peça sejam em sua maioria interpretada por homens, o elenco também conta com uma mulher cis e outra mulher trans, que deixou a seguinte mensagem final para o público:

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“Quero agradecer a todos presentes e especialmente a uma mulher trans que está aqui. Nós merecemos estar em todos os espaços. E a cultura é o principal deles”.

E com esse recado poderoso encerro aqui minhas impressões do Cabaré Lidô, uma peça, aparentemente, despretensiosa que ao nos proporcionar risos e reflexões, prova como a arte drag não tem limites. Sempre reforçando que representatividade, especialmente de pessoas trans tão caras a luta da comunidade LGBT, importa e causa impactos que reverberam com bastante potência e consequências em nossa sociedade.

Eu, de amarelo ao centro, tietando o maravilhoso elenco de Cabaré Lidô, já praticamente todo desmontado, ao final da peça.

Se você se interessou pela peça, hoje, dia 11 de agosto (sábado), haverá mais uma apresentação, endereço na peça abaixo. O teatro fica próximo ao metrô Carlos Prates, em Belo Horizonte, a quem for desejo boa diversão.

Peço desculpa pela baixa qualidade das fotos que não fazem jus à grandeza da peça, todos os registros foram feitos por mim pelo celular.

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