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Política

Bem-vindos aos anos 90, por Pablo Villaça

Quem se lembra daquela década, da anterior e do inicinho da seguinte, tem memórias vívidas de longas filas que partiam dos postos de gasolina e obrigavam motoristas a esperar horas para abastecer. Dos professores das escolas particulares em greve. De aeroportos parados. Dos preços subindo loucamente sob a justificativa de que a paralisação dos caminhoneiros diminui a oferta. E, claro, de restrição de compras de produtos nos supermercados – o que, aliás, é uma tática clássica destes para usar o pânico criado para vender mais, em mais uma prova da beleza do capitalismo.

“Ah, lá vem ele falando do capitalismo de novo, o comunista-bolivariano-mortadela-petralha-que-devia-ir-pra-Cuba-Venezuela”.

OK, respire fundo. Engula a raiva um pouquinho. Sei que há pessoas inteligentes e com capacidade de raciocínio intacta quando calmas lendo isso. Pessoas que durante anos escutaram a retórica da mídia, dos políticos com discursos raivosos, mas que agora estão vendo nas ruas que algo parece ter dado errado com as promessas de que o problema era o PT e a Dilma e que tudo ficaria melhor quando ela saísse. É para você que estou escrevendo.

Não, este não é um post do tipo “nós avisamos”. É um post do tipo “me dê três minutinhos do seu tempo – ok, um pouco mais do que isso – para que eu tente explicar por que a retórica anti-esquerda tem o propósito de te usar para defender os interesses de quem quer que você se ferre, pois isso é lucrativo para eles”.

Em primeiro lugar, há anos que toda a questão política brasileira é resumida por “esquerda x direita”, com a demonização da primeira. Indivíduos que não fazem a menor ideia do que seja o socialismo (ou uma social-democracia, que NÃO é o que o PSDB defende na prática), mas berram contra este e o culpam por tudo. Pois me permitam uma pergunta: por que o discurso da direita sempre fala sobre a importância do “mercado” ao passo que o da esquerda fala sobre “direitos trabalhistas”? Já pensou sobre isso? Repare: sempre que se discutem direitos humanos (lembrete: você é humano(a)), os próprios integrantes da direita logo dizem que isso é “coisa de esquerdista”, como se fosse uma ofensa, enquanto eles mesmos dizem que o certo é defender um “governo mínimo”, a “autorregulação do mercado” e por aí afora.

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Pois os últimos dias têm servido como uma aula prática sobre esta diferença. Por que o Brasil parou? Por que a gasolina chegou a preços absurdos? “Tudo culpa da Dilma e do PT; estamos pagando agora pelos erros que cometeram antes!”, imediatamente gritam MBL e afins. Mas será que isto faz sentido? A esquerda está fora do governo há mais de dois anos e, nos dois anos anteriores, praticamente não conseguiu governar em função das pautas-bomba de Eduardo Cunha e da antagonização do congresso (“Quero ver a Dilma sangrar”, disse o tucano Aloysio Nunes ao falar de como esta era sabotada pelos parlamentares.)

Além disso, há uma explicação óbvia para o que ocorreu: o “governo” Temer, interessado em defender o tal do “mercado”, decidiu que o Estado não iria mais atuar na determinação do preço da gasolina, como era feito antes. Não, agora, o próprio mercado ia regular o preço, livre para fazer como quisesse.

E o mercado fez o que faz de melhor (e que levou à crise de 2008): tratou logo de buscar os maiores lucros imediatos que conseguisse, ignorando o que aconteceria depois. Com isso, ficamos sujeitos às decisões do mercado internacional, que, por sua vez, têm grandes interesses no nosso petróleo. A cadeia de causa-e-consequência é lógica: os preços sobem (eles lucram) e sobem (eles lucram mais); como o governo não age mais para segurar o preço, mas não pode deixar a coisa sair de controle, diminui impostos incidentes sobre combustível (eles lucram mais ainda), beneficiando o mesmo mercado internacional que domina cada vez mais a Petrobrás (graças às ações de Temer e Serra) e as refinarias (eles lucram mais mais ainda). E aí vem a “greve” dos motoristas, que, curiosamente, envolve demandas que beneficiam primordialmente não os caminhoneiros em si, mas os DONOS das frotas – como a desoneração do diesel (não da gasolina comum ou do álcool).

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Percebem? O grande empresariado, aquele que vive de especulação ou da exploração do trabalho alheio, GANHA com a crise que estamos vivendo. Sabe quem perde? Você, da classe média pra baixo, que vai continuar a ver a gasolina aumentar de preço, que sofre nas imensas filas de ônibus e depois nos veículos ultralotados por causa das frotas reduzidas, que tem o dia descontado pelos patrões por não conseguir chegar ao trabalho e que tem que pagar pelo aumento no preço dos alimentos, das passagens aéreas e de todo o resto.

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ESTA é a diferença entre esquerda e direita. Esta última aposta no bem-estar do mercado; a primeira opta por usar o Estado para melhorar as condições de vida das PESSOAS.

“Ah, mas isto é impossível! Alguém acaba pagando o preço!”

Errado. Quando o governo prendia os preços do combustível, é claro que assumia parte dos custos e da diminuição da receita da Petrobrás, mas os lucros que esta trazia eram mais do que suficientes para suportar isso E AINDA gerar caixa para investimentos na saúde e na educação (como foi sacramentado por lei durante o governo Dilma até que Temer assumiu e congelou os investimentos nestas áreas por 20 anos). Lembrem-se: com o pré-sal, o Brasil passou a deter uma das maiores reservas petrolíferas do mundo – mas, de novo, isso não interessava ao mercado internacional, que não ganharia com isso. Daí tudo que vivemos hoje.

“Ah, mas a esquerda quebrou a Petrobrás!”. Outra mentira. E quem diz isso não é o PT ou Boulos ou Manuela ou Che Guevara, mas… os próprios engenheiros da Petrobrás (não os executivos engravatados, mas os engenheiros que a fazem funcionar). Pois é. (Não vou copiar aqui todos os dados, gráficos, análises; em vez disso, sugiro que leiam aqui)

Então, não, não foi a esquerda que gerou o que vivemos hoje; ela IMPEDIA que este caos fosse gerado pelos interesses de alguns poucos. O que gerou tudo isso foi o velho vilão do liberalismo econômico defendido por MBL, Partido Novo, PSDB e outros compromissados – e patrocinados – por aqueles que sabem que lucrarão ainda mais com a crise que destrói VOCÊ.

Não acho que todo mundo que bateu panela tem consciência de que o fez contra os próprios interesses. É difícil, às vezes, perceber o que está acontecendo quando os donos do poder econômico (o que inclui a mídia) te bombardeiam com propaganda. Dito isso, ignorar a realidade agora é impossível.

E há IMENSA virtude em reconhecer um erro e passar a trabalhar para corrigi-lo. Pois esta é a hora. Em vez de encarar a esquerda como um bando de malucos que querem tomar tudo de quem tem e dar pra quem não tem (o que é uma crença absurda, pra começo de conversa), busque entender a diferença de VISÃO DE MUNDO entre esquerda e direita.

E se pergunte o que VOCÊ acha mais importante defender: o tal “mercado” que ganha com sua perda ou seus próprios interesses e os de sua classe social. Quando fizer isso, lembre-se: se você não pode parar de trabalhar e viver de renda, sua classe social NÃO está nem próxima da elite que tenta te convencer de que se você defender o “mercado” poderá fazer parte dela logo, logo.

Desculpem se falei demais. É só que acredito que este é o momento do despertar. O problema não é errar; é continuar errando.

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Pois os únicos que ganham com seu erro são os que te induziram a ele.

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ATUALIZAÇÃO: se alguém ainda tinha qualquer dúvida sobre a natureza da “greve”, esta foi eliminada pelo acordo CRIMINOSO feito entre o “governo” de Temer, o Pequeno, e os “grevistas”. Basicamente, o governo concordou em subsidiar o mercado, usando dinheiro público para manter o valor da Petrobrás para os acionistas (com grande número de estrangeiros) ao mesmo tempo em que diminui o valor do diesel para o patronato, os donos das frotas (que compõem a maioria da malha de transporte rodoviário).

Em resumo: tudo que apontei no texto foi comprovado. O mercado se mantém “livre” (mas com dinheiro público permitindo isso) enquanto os interesses dos empresários são igualmente atendidos financeiramente pelo governo, que vai pedir, pelo que parece, UM BILHÃO POR MÊS de empréstimos para sustentar o acordo. Isso não é nem pedalada, é a bicicleta inteira.

Como apontou um leitor no Twitter, Temer criou o Bolsa Acionista. Enquanto corta verba do Bolsa Família, elimina Ciência Sem Fronteiras e a maioria dos outros programas voltados para a população.

É o que o MBL mais ama: Estado mínimo para o povo e máximo para o mercado.

Texto de autoria de Pablo Villaça e postado aqui em 24 de maio.

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