A Star Is Born começa como todas as boas histórias de Lady Gaga – com drag queens. O pico da cena de Gaga na estréia de Bradley Cooper como diretor, que estreou semana passada no Festival de Cinema de Veneza, acontece em um bar gay, onde Gaga é “descoberta” em um show de drag, vestida como uma vampira parisiense, cantando “La Vie en Rose” de Edith Piaf, puxando uma rosa de suas meias arrastão.
A história de A Star Is Born é um conto tão antigo quanto Hollywood, baseado em um drama musical de 1937 estrelado por Janet Gaynor e Fredric March (com remakes posteriores estreladas por Judy Garland e James Mason em 1957, e Barbra Streisand e Kris Kristofferson em 1976). Com um esquadrão de drag queens liderado por Shangela Laquifa Wadley, a lendária participante de RuPaul’s Drag Race, as coisas parecem muito atuais, muito 2018.
Sim, este filme é baseado no conto de fadas de um homem mais velho descobrindo uma jovem estrela feminina que estoura para a fama e se apaixona por seu mentor, nós entendemos isso. A história de amor vai vender esse filme nas bilheterias e para os eleitores do Oscar, mas para outro público esse filme se resume as drag queens que primeiro acreditaram na personagem de Gaga, Ally, que primeiro lhe deu o palco – mesmo que o astro country alcoólatra Jackson Maine, que a seduziu para uma bebida depois de se apaixonar à primeira vista, tenha a colocado em frente de uma platéia de 50 mil pessoas para cantar suas canções autorais.
No filme, Ally é uma garçonete nesse bar gay bonitinho e alegre, mas as drags a estimulam a seguir seu chamado – sua voz. Então Jackson entra no bar, e ele claramente não está em seu ambiente habitual (ele pergunta a amiga de Ally, interpretada por Anthony Ramos de She’s Gotta Have It, de Spike Lee, se ela está cantando, ou é apenas “karaokê”).
E quando Jackson vai aos bastidores para encontrar Ally, ele pergunta se as sobrancelhas dela são reais. Como assim? É só mais tarde no filme, depois de seu romance ardente encher a tela, que Ally e Jackson comemoram o aniversário de casamento em uma banheira, onde ela o veste em drag. Ela pinta a sombra negra, o rímel e as mesmas sobrancelhas coladas que ele tirou da primeira vez, e então ambas explodem em um beijo apaixonado.
É interessante que a maquiagem esteja no centro e parte da conversa em torno deste filme – especialmente desde que Gaga disse na conferência de imprensa de Veneza na sexta-feira que Cooper não permitiu que ela usasse maquiagem durante a maior parte do filme.
Antes de fazermos um teste de tela, ele limpou a maquiagem e colocou a mão no meu rosto, limpou a maquiagem e disse: ‘Não quero maquiagem no rosto’. Essa vulnerabilidade é algo que ele trouxe em mim. Bradley conseguiu tirar uma vulnerabilidade que eu poderia não ter conseguido tirar de mim mesmo. Eu estava com muito medo de interpretar esse papel (relembra Gaga).
Enquanto há certamente um elemento de alta cafonice para essa narrativa da pobreza à riqueza, as próprias lutas de Gaga na indústria da música são ecoadas por sua personagem.
Eu sempre fui muito forte no início da minha carreira. Eu nunca quis ser sexy como as outras mulheres, queria ser minha própria artista e ter minha própria visão. É a mesma coisa com Ally neste filme (revelou Gaga na coletiva de imprensa).
Este não é o Five Foot Two, então não espere nenhum vestido de carne ou Born This Way, mas o que é fascinante é que essa história do homem-descobre-mulher foi revelada nos bastidores, com Gaga sendo mentora de Cooper, que também canta as músicas de Jackson no filme, como músico.
Ele canta de suas entranhas, o néctar de sua alma. O que eu amo é que houve uma verdadeira troca – ele me aceitou como atriz e eu o aceitei como músico (conta Gaga).
Artigo escrito por Nadja Sayej para a WMagazine.